Uma Arquitetura para a Paz, Tecnologia e Coexistência no Século XXI

Introdução: Do Fim da História à Policrise

O primeiro quarto do século XXI (2001-2025) será lembrado como uma era de desconstrução sistemática da ordem internacional pós-Guerra Fria. A visão inicialmente otimista de um futuro trazido pela globalização transformou-se na realidade de uma “policrise”, onde choques geopolíticos, econômicos e tecnológicos interagem, se propagam em cascata e se amplificam mutuamente. Enquanto a Guerra Fria tinha uma estrutura clara baseada na confrontação ideológica Leste-Oeste, a comunidade internacional tem buscado uma nova ordem desde o seu fim. No entanto, essa busca permaneceu inconclusiva, e o mundo entrou em uma nova era de instabilidade.

A tese central deste relatório é que o desafio principal que o mundo moderno enfrenta reside na crescente divergência entre um sistema econômico global altamente integrado e um cenário geopolítico cada vez mais fragmentado. O objetivo deste relatório é propor uma arquitetura integrada para gerenciar essa divergência e fazer a transição de um quadro de competição desordenada para um de “coexistência gerenciada”.

Para atingir esse objetivo, este relatório apresenta um conjunto integrado de “avanços” que se reforçam mutuamente, projetados para abordar as três principais fraturas na ordem internacional contemporânea. Com base em uma análise histórica de 2001 a 2025, essas propostas visam fornecer prescrições concretas e acionáveis para os desafios complexos de nosso tempo.


Parte 1: A Ordem em Desagregação (2001-2025): Anatomia de uma Policrise

Esta seção fornece uma análise histórica essencial, traçando os principais eventos e mudanças estruturais que definem o ambiente global contemporâneo. O objetivo é iluminar a cadeia causal que leva de uma era de unipolaridade ao estado atual de confrontação multipolar.

1.1 O Choque do 11 de Setembro e a Super-extensão Unipolar (2001-2008)

Os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 transformaram fundamentalmente o cenário da segurança internacional. O foco global mudou de conflitos interestatais para uma luta contra atores não estatais — a “Guerra ao Terror”. Embora este evento tenha fornecido uma justificativa para a ação unilateral americana, também estimulou uma cooperação internacional sem precedentes no combate ao terrorismo, levando à criação de novos marcos legais. As Nações Unidas, por exemplo, determinaram que os estados membros aderissem a tratados multilaterais de combate ao terrorismo, demonstrando um momento de solidariedade internacional.

No entanto, a resposta ao 11 de setembro, particularmente as guerras no Afeganistão e no Iraque, drenou significativamente os recursos militares e econômicos dos EUA. Isso desviou a atenção e o capital de outras questões globais urgentes, acelerando assim uma mudança relativa no equilíbrio de poder global.

Os eventos deste período criaram um profundo paradoxo na ordem internacional. A curto prazo, a ameaça comum do terrorismo fomentou a cooperação multilateral. No entanto, a subsequente resposta estratégica dos EUA — guerra preventiva e ação unilateral — acabou por enfraquecer as próprias normas e instituições internacionais que os EUA há muito defendiam. Esse comportamento, juntamente com a tendência mais ampla da globalização de diminuir o status dos estados soberanos, desafiou a estrutura do direito internacional. O precedente estabelecido pelos EUA de aplicar seletivamente a “ordem baseada em regras” criou um vácuo normativo que estados revisionistas como a Rússia explorariam mais tarde para afirmar suas esferas de influência e justificar ações fora do quadro existente do direito internacional. Assim, a era da “Guerra ao Terror” semeou as sementes dos desafios geopolíticos da década de 2020.

1.2 A Crise Financeira e a Ascensão da Geoeconomia (2008-2016)

A crise financeira global de 2008, originada do problema das hipotecas subprime nos EUA, propagou-se pelo mundo com o colapso do grande banco de investimentos Lehman Brothers. Esta crise expôs uma falha catastrófica no modelo financeiro ocidental, danificando gravemente a confiança em sua liderança econômica. Após a crise, as economias avançadas entraram em um período de estagnação de longo prazo caracterizado por taxas de crescimento mais baixas, investimento de capital suprimido e crescimento lento da produtividade.

Em contraste, a China alcançou uma rápida recuperação através de um pacote de estímulo maciço liderado pelo estado, estabelecendo-se como o principal motor de crescimento na economia global pós-crise. Este evento acelerou decisivamente a mudança do centro de gravidade econômico do mundo em direção à Ásia, particularmente à China. No decorrer da resposta à crise, o G20 emergiu como o principal fórum para a governança econômica global, refletindo a nova realidade multipolar. No entanto, o G20 enfrentou dificuldades na transição de um órgão de resposta a crises para um comitê diretivo proativo, expondo os desafios da construção de consenso entre diversas potências econômicas.

A crise financeira de 2008 não foi apenas um evento econômico, mas um ponto de virada geopolítico. Ela minou a legitimidade do modelo fundamentalista de mercado representado pelo “Consenso de Washington” e deu credibilidade a modelos de capitalismo de estado como o da China. Isso deu origem a uma nova arena de competição conhecida como “geoeconomia”, onde instrumentos econômicos como comércio, investimento e política monetária se tornaram ferramentas centrais do poder estatal. A interdependência econômica, antes vista como uma fonte de paz, transformou-se em um vetor potencial de conflito. A China começou a alavancar seu crescente poder econômico para fins estratégicos, expandindo sua influência através de iniciativas como a “Iniciativa do Cinturão e Rota” e intensificando o atrito comercial e tecnológico com os Estados Unidos.

1.3 O Retorno do Poderio Militar e a Fragmentação Sistêmica (2016-2025)

Esta era é caracterizada pelo ressurgimento da competição entre grandes potências. O atrito comercial entre os EUA e a China e, em sua forma mais aguda, a invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia em 2022, são emblemáticos dessa tendência. A invasão foi um desafio direto aos pilares da ordem internacional pós-Segunda Guerra Mundial — soberania nacional e não uso da força — e resultou em sanções econômicas sem precedentes contra a Rússia. Isso forçou um realinhamento dos mercados globais de energia e alimentos, desferindo um golpe significativo na economia mundial.

A pandemia de COVID-19 concomitante atuou como um catalisador, acelerando essa fragmentação. A pandemia expôs as vulnerabilidades das cadeias de suprimentos globais, estimulando movimentos em direção à “resiliência”, “reshoring” (repatriação da produção) e “friend-shoring” (produção em países amigos).1 Em particular, cresceu a conscientização sobre os riscos representados pelo papel dominante da China em setores críticos e a dependência excessiva dela.2

Os eventos deste período revelaram que o sistema global está operando com duas lógicas divergentes. O “sistema operacional” da economia global permanece profundamente integrado através de cadeias de suprimentos e finanças, enquanto o “sistema operacional” da geopolítica está se fragmentando em blocos concorrentes. A guerra na Ucrânia é a manifestação mais violenta dessa divisão, forçando estados e corporações a priorizar o alinhamento geopolítico em detrimento da eficiência econômica. Se a pandemia demonstrou a “vulnerabilidade” das cadeias de suprimentos centradas na China, a guerra na Ucrânia provou que a interdependência econômica poderia ser “transformada em arma” através de sanções. A combinação desses eventos levou a um recálculo estratégico global, mudando da racionalidade econômica pura para a lógica da segurança e resiliência.

1.4 Os Aceleradores Digitais e Climáticos

Outra tendência crítica que define este quarto de século é a evolução exponencial da inteligência artificial (IA). A IA transformou-se de uma tecnologia de nicho em uma tecnologia de uso geral, prometendo ganhos dramáticos de produtividade, ao mesmo tempo que representa desafios profundos para o emprego, a coesão social e a segurança.

Simultaneamente, a crise climática cada vez mais profunda tornou-se uma prioridade internacional máxima, criando novas arenas tanto para cooperação quanto para conflito. Políticas como o Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira (CBAM) da UE são tentativas de prevenir a “fuga de carbono”, mas são vistas por outras nações como uma forma de protecionismo ambiental, tornando-se uma nova fonte de disputas comerciais.

A IA e as mudanças climáticas não são questões separadas, mas são aceleradores sistêmicos. A IA está remodelando os meios de produção e poder, enquanto as mudanças climáticas estão remodelando o próprio ambiente físico e econômico. Esses fatores estão criando novos domínios de competição não tradicionais — como a corrida pelo domínio em plataformas de IA ou o estabelecimento de padrões para tecnologias verdes — adicionando novas camadas de complexidade ao sistema internacional.


Parte 2: As Três Fraturas que Erodema a Estabilidade Global

Esta seção fornece uma análise detalhada das três áreas problemáticas específicas identificadas na consulta do usuário, com base nas percepções da Parte 1 e aproveitando dados extensos.

2.1 O Motor do Desequilíbrio: Assimetrias Econômicas e Pensamento de Soma Zero

A “disputa por uma fatia do bolo” que preocupa o usuário é um sintoma de desequilíbrios estruturais profundos entre as principais potências. Esta análise disseca os modelos econômicos divergentes dos principais atores.

  • Estados Unidos: Uma economia impulsionada pelo consumo, dependente do status do dólar como principal moeda de reserva, com déficits comerciais e de conta corrente persistentes.
  • China: Um modelo liderado por investimentos e exportações, impulsionado por políticas industriais estatais, um sistema de taxa de câmbio gerenciado e um papel central na manufatura global, gerando enormes superávits comerciais.
  • UE, Reino Unido, Japão: Economias maduras enfrentando ventos demográficos contrários e desafios de competitividade industrial em graus variados, muitas vezes posicionadas entre os polos dos EUA e da China. O Japão, em particular, sofreu décadas de estagnação salarial, apesar da alta produtividade em certos setores.

A ferramenta das taxas de câmbio tem seus limites. Este relatório argumenta que, embora os ajustes cambiais sejam necessários, eles são insuficientes por si sós. A análise do Banco de Compensações Internacionais (BIS) mostra que o aprofundamento das cadeias de valor globais (onde as importações são bens intermediários para as exportações) atenuou o impacto das flutuações da taxa de câmbio nos balanços comerciais.4 Como a economia chinesa está tão profundamente integrada nas cadeias de suprimentos globais, uma desvalorização do renminbi também aumenta os próprios custos de produção da China, limitando sua vantagem competitiva.

A natureza da competição não é apenas sobre preço, mas sobre estratégias econômicas fundamentalmente diferentes e apoiadas pelo estado. Estudos de caso de políticas industriais bem-sucedidas e malsucedidas 5, e as disputas em andamento na Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre subsídios e empresas estatais (SOEs), ilustram claramente este ponto.

O cerne da fratura econômica não é meramente um desequilíbrio comercial, mas um “choque de capitalismos”. Um modelo de livre mercado e um modelo de capitalismo de estado estão operando no mesmo palco global com regras e objetivos fundamentalmente diferentes. Esta situação cria um atrito sistêmico que não pode ser resolvido apenas por mecanismos de mercado ou ferramentas políticas simples. Reconhecer essa divergência e criar um novo quadro para negociar suas interações é essencial. Disputas sobre tarifas e subsídios mostram que essa “disputa pelo bolo” já é uma realidade. Um simples realinhamento cambial como o Acordo de Plaza não é mais suficiente, pois as cadeias de suprimentos integradas complicam seus efeitos.4 A questão real é a diferença sistêmica subjacente entre um sistema econômico que prioriza o valor para o acionista e o consumo a curto prazo (EUA) e um que prioriza a capacidade industrial e a participação de mercado a longo prazo, dirigidas pelo estado (China). Portanto, as soluções devem ir além das métricas financeiras e abordar as regras da própria competição industrial.

Tabela 1: Painel Econômico Comparativo das Grandes Potências (2001–2025)

Indicador

País/Região

2001

2006

2011

2016

2021

2024 (Previsão)

Crescimento Real do PIB (%)

Estados Unidos

1.0

2.7

1.6

1.7

5.9

2.5

China

8.3

12.7

9.6

6.8

8.1

5.0

UE (Alemanha)

2.1

3.4

1.7

2.0

5.3

0.8

Japão

0.4

1.4

-0.1

0.8

1.7

1.0

Balança de Conta Corrente (% do PIB)

Estados Unidos

-3.9

-5.8

-2.8

-2.3

-3.6

-3.2

China

1.3

9.3

1.8

1.6

1.8

1.5

UE (Alemanha)

0.1

6.4

6.1

8.5

7.9

6.9

Japão

2.1

3.9

1.9

3.9

3.0

3.5

Custo Unitário do Trabalho (2015=100)

Estados Unidos

90.1

96.5

98.2

100.2

105.8

110.1

China

115.2

98.7

95.4

101.5

103.1

104.5

UE (Alemanha)

98.5

98.9

99.1

99.8

102.3

105.6

Japão

106.3

102.1

104.5

99.7

99.5

100.2

Autossuficiência Energética (%)

Estados Unidos

72

70

83

87

101

105

China

94

88

85

84

82

80

UE

60

56

54

54

60

62

Japão

12

11

6

8

11

13

Nota: Os dados são valores representativos compilados de fontes públicas, incluindo FMI, Banco Mundial, OCDE, EIA e agências estatísticas nacionais. Os dados da UE usam a Alemanha como exemplo representativo.

2.2 O Dilema do Pária: Confrontando e Reintegrando Estados Revisionistas

Esta seção analisa a Rússia como um estudo de caso. O atual regime de sanções imposto à Rússia é o mais abrangente já aplicado a uma grande economia.

  • Impacto na Rússia: As sanções privaram a Rússia de centenas de bilhões de dólares em receita e bloquearam o acesso a tecnologias críticas. No entanto, a economia russa mostrou resiliência através da substituição de importações, exportações de petróleo por meio de uma “frota fantasma” e desvio de comércio para países não sancionadores como China e Índia.
  • Impacto Global: As sanções causaram graves perturbações nos mercados globais de energia, alimentos e fertilizantes, com um impacto desproporcional nos países em desenvolvimento.

Para formular uma estratégia eficaz para este desafio, analisamos precedentes históricos.

  • África do Sul: O fim do apartheid demonstra que a pressão internacional sustentada, combinada com a dinâmica interna, pode levar a mudanças políticas, seguidas por uma rápida reintegração na economia global. A chave aqui foi a existência de um estado final político claro (democracia) que oferecia um caminho para a normalização.
  • Irã (JCPOA): O acordo nuclear é um excelente exemplo de um modelo baseado em desempenho, ligando diretamente ações verificáveis ao alívio de sanções. Mesmo o alívio parcial das sanções proporcionou benefícios econômicos significativos, provando o poder dos incentivos. Ao mesmo tempo, a fragilidade do acordo oferece lições sobre a importância do compromisso político.
  • O Desafio da Reconstrução: A escala da destruição na Ucrânia é imensa, com custos de reconstrução estimados em mais de US$ 524 bilhões. O debate sobre o uso de ativos russos congelados para financiar essa reconstrução será uma questão central em qualquer acordo futuro, ligando diretamente a responsabilidade russa à recuperação da Ucrânia.

A estratégia atual em relação à Rússia carece de um estado final claro. Sanções por tempo indeterminado arriscam cimentar permanentemente um bloco eurasiano hostil (Rússia-China-Irã) e acelerar a fragmentação do sistema financeiro global. Uma estratégia bem-sucedida deve passar da mera punição para a “diplomacia coercitiva”, usando as sanções como alavanca para alcançar um acordo político claro. Isso requer uma “saída” clara, crível e apoiada internacionalmente que vincule mudanças verificáveis no comportamento russo a um processo faseado de normalização. A situação atual, em que as sanções são eficazes, mas não decisivas, cria um impasse perigoso. O caso da África do Sul sugere que as sanções funcionam melhor como alavanca para uma transição política. O acordo nuclear com o Irã fornece um modelo para uma abordagem “transacional”, trocando passos verificáveis por recompensas concretas. Aplicar essa lógica à Rússia significa passar do estado binário atual de “todas as sanções ou nenhuma sanção” para um quadro faseado e condicional. Esta é a única maneira de manter a pressão, garantindo a responsabilização pela Ucrânia e criando incentivos para a mudança dentro da Rússia.

2.3 O Vácuo de Governança: Domando a Espada de Dois Gumes da Tecnologia

Esta seção analisa o sistema dual de governança tecnológica proposto pelo usuário.

  • O Bem Comum de Código Aberto: O software de código aberto (OSS) é um bem público global crítico, formando a base de quase toda a tecnologia moderna, da computação em nuvem à IA, com um valor econômico estimado do lado da demanda de US$ 8,8 trilhões. No entanto, este bem comum está ameaçado pelo subinvestimento em manutenção e segurança, criando riscos sistêmicos. A vulnerabilidade Log4Shell é um excelente exemplo de como uma falha em um componente obscuro e mantido por voluntários pode colocar em perigo toda a infraestrutura digital global.
  • O Escudo de Código Fechado: Simultaneamente, a sofisticação e a natureza transnacional do cibercrime — de gangues de ransomware a hackers patrocinados pelo estado — superam as capacidades das agências de aplicação da lei nacionais individuais. A cooperação internacional através de órgãos como a INTERPOL e a Europol é essencial, mas muitas vezes é dificultada por sistemas jurídicos diferentes e atrasos no compartilhamento de informações. Uma organização global especializada e tecnologicamente superior é necessária para combater eficazmente essas ameaças transfronteiriças.

O desafio central aqui é como criar um órgão centralizado, poderoso e responsável para policiar os abusos que surgem do mundo do código aberto, preservando ao mesmo tempo sua natureza inovadora, descentralizada e sem permissão. Isso espelha o clássico problema da filosofia política de equilibrar liberdade e segurança na era digital.

A abordagem atual da governança digital é perigosamente fragmentada. Estamos tentando regular um mundo digital global e instantâneo com estruturas legais nacionais do século XX. A proposta do usuário identifica corretamente a necessidade de uma nova arquitetura global de dois níveis: uma camada que atua como “guardiã” do bem comum digital produtivo (OSS), e outra que atua como “executora” contra as forças destrutivas que o exploram. Essas duas funções são simbióticas. A inovação só pode florescer se o bem comum for seguro. O OSS cria um valor imenso, mas enfrenta o risco de uma “tragédia dos comuns”. Isso requer um modelo de gestão, com financiamento público-privado para infraestrutura crítica. O cibercrime, por outro lado, é uma ameaça global e organizada que exige uma resposta organizada e poderosa. Uma força policial cibernética global precisa manter uma vantagem tecnológica sobre os adversários, o que significa ferramentas proprietárias e de código fechado. As duas propostas são dois lados da mesma moeda: uma nutre o bem, a outra suprime o mal, criando um ecossistema digital equilibrado.


Parte 3: Um Projeto para uma Nova Era: Avanços Propostos

Esta seção central apresenta prescrições concretas derivadas da análise anterior, respondendo diretamente à consulta do usuário com propostas detalhadas e acionáveis, enraizadas na análise precedente.

3.1 Proposta 1: O Acordo de Estabilidade Econômica Global (GESA) — Um Quadro do Século XXI para a Coexistência Gerenciada

  • Conceito: Um novo quadro multilateral, previsto para operar sob o G20, projetado para gerenciar a competição estrutural entre diferentes modelos econômicos e prevenir desequilíbrios desestabilizadores. Não se trata de um retorno a um sistema fixo como o de Bretton Woods, nem de uma simples repetição do Acordo de Plaza, mas de um sistema dinâmico para a coordenação de políticas.
  • Componentes Chave:
  1. Cesta de Vigilância Expandida: Monitorar um conjunto mais amplo de indicadores além dos balanços comerciais e taxas de câmbio. Isso incluiria superávits/déficits de conta corrente como porcentagem do PIB, taxas de poupança e investimento doméstico, níveis de subsídios industriais (com base nas propostas de reforma da OMC), dependência de cadeias de suprimentos de minerais críticos e a intensidade de carbono das exportações (vinculando-se a mecanismos como o CBAM).
  2. Transparência e Revisão por Pares: Os estados membros se comprometem a relatar de forma transparente sobre essas métricas, sujeitos à revisão por pares por um órgão técnico conjunto do G20, FMI e OMC. Isso abordaria a atual opacidade das políticas de subsídios.
  3. Mecanismo de Ajuste Coordenado: Quando as métricas ultrapassam limiares pré-acordados, um diálogo estruturado é acionado, obrigando os membros a negociar um pacote de ajustes de políticas. Isso poderia incluir intervenções cambiais coordenadas, eliminação gradual de subsídios específicos, investimento conjunto na diversificação da cadeia de suprimentos e vinculação de preferências comerciais a compromissos climáticos.
  • Justificativa: O GESA reconhece que a estabilidade econômica global não pode mais ser um subproduto acidental de políticas nacionais não coordenadas. Ele cria um processo formal para gerenciar a interdependência e prevenir políticas de “empobrecer o vizinho” que levam a guerras comerciais e instabilidade.

Tabela 2: Estrutura do Acordo de Estabilidade Econômica Global (GESA)

Pilar

Objetivo

Métricas Chave

Mecanismo/Fórum

Atores Chave

1. Estabilidade Macro-Financeira

Corrigir a volatilidade excessiva da taxa de câmbio e os desequilíbrios globais

Balanço de conta corrente (% do PIB), Taxa de câmbio efetiva real, Reservas cambiais

Reuniões de Ministros das Finanças e Governadores de Bancos Centrais do G20, vigilância anual do FMI

G20, FMI, Bancos Centrais Nacionais

2. Política Industrial e Comercial

Garantir condições de concorrência equitativas e prevenir corridas de subsídios prejudiciais

Níveis de subsídios específicos por setor, Participação de empresas estatais na economia doméstica, Barreiras de acesso ao mercado

Reuniões de Ministros do Comércio do G20 com base em relatórios conjuntos OMC/OCDE, Resolução de disputas para violações graves

G20, OMC, OCDE

3. Segurança da Cadeia de Suprimentos e Recursos

Diversificar e aumentar a resiliência das cadeias de suprimentos críticas

Dependência de países específicos para minerais críticos, Participação na produção de tecnologias chave

Parceria de Segurança de Minerais expandida e liderada pelo G20, Mecanismos conjuntos de estocagem e investimento

G7/G20, AIE, Corporações Relevantes

4. Nexo Clima-Comércio

Prevenir a fuga de carbono e alinhar as metas climáticas globais com as regras comerciais

Intensidade de carbono das exportações, Preços domésticos de carbono

Criação de um fórum de negociação multilateral sobre o CBAM, Apoio técnico/financeiro para nações em desenvolvimento

G20, UNFCCC, OMC

3.2 Proposta 2: Um Roteiro Baseado em Desempenho para a Reintegração da Rússia

  • Conceito: Um roteiro formal e multifásico para quebrar o atual impasse das sanções. Ele cria um caminho condicional para a normalização da Rússia, vinculando ações russas específicas e verificáveis a ações recíprocas da comunidade internacional. Isso mantém a pressão máxima, ao mesmo tempo que fornece uma “saída” clara.
  • Componentes Chave:
  1. Estabelecimento da Autoridade de Reconstrução e Reparações da Ucrânia (URRA): Um órgão supervisionado internacionalmente, co-presidido pela Ucrânia, o G7 e um estado neutro (por exemplo, Suíça), para gerenciar todos os fundos de reconstrução. Seu financiamento inicial viria dos lucros gerados pelos ativos soberanos russos congelados, como já está começando a acontecer.
  2. Alívio Gradual das Sanções: Um roteiro detalhado que vincula as ações russas ao descongelamento de ativos e ao levantamento de sanções. Isso seria transacional e reversível.
  3. Arquitetura de Segurança: Na fase final, negociações para um novo tratado de segurança europeu, incluindo limitações no desdobramento de forças e novos mecanismos de verificação, para abordar as causas profundas do conflito.
  • Justificativa: Esta proposta muda a dinâmica de punição para resolução. Ela aprende com as abordagens condicionais e baseadas em desempenho do JCPOA e da África do Sul pós-apartheid, tornando a reintegração da Rússia contingente à sua contribuição para resolver o problema que criou (a reconstrução da Ucrânia).

Tabela 3: Roteiro para a Reintegração da Rússia

Fase

Ações Russas Exigidas (Verificáveis)

Alívio de Sanções/Incentivos Correspondentes

Papel da URRA

Objetivo de Segurança a Longo Prazo

Fase 1: Cessar-fogo e Retirada

Adesão a um cessar-fogo abrangente, retirada verificada de todas as forças do território ucraniano

Suspensão temporária de algumas sanções financeiras (por exemplo, reconexão parcial ao SWIFT), flexibilização das restrições às importações humanitárias

Cooperação com monitores de cessar-fogo, realização de avaliações iniciais de danos

Reinstauração das missões de monitoramento da OSCE

Fase 2: Responsabilização e Reparações

Cooperação total com tribunais internacionais de crimes de guerra, transferência da maioria dos ativos congelados para o controle da URRA

Descongelamento parcial de ativos não soberanos, permissão para reingressar em certos fóruns internacionais (por exemplo, órgãos científicos)

Recebimento de ativos congelados e início da alocação de projetos de reconstrução

Estabelecimento de um mecanismo internacional que garanta a soberania e a integridade territorial da Ucrânia

Fase 3: Normalização e Nova Segurança

Reconhecimento total da soberania ucraniana, assinatura e ratificação de um novo tratado de segurança europeu

Levantamento gradual das sanções econômicas restantes, conversas para o reingresso no G8/G20

Implementação em larga escala de projetos de reconstrução e coordenação da cooperação econômica a longo prazo

Entrada em vigor de um novo tratado de segurança europeu, incluindo medidas de construção de confiança e controle de armas

3.3 Proposta 3: A Iniciativa de Bens Comuns Digitais e Escudo de Cibersegurança Global

  • Conceito: Um modelo de governança de dois níveis para gerenciar a tecnologia global, respondendo ao apelo do usuário para separar as tecnologias gerais/comerciais e de segurança.
  • Nível 1: A Fundação de Bens Comuns Digitais (DCF)
  • Missão: Atuar como um guardião global para software de código aberto crítico e infraestrutura digital.
  • Estrutura: Um consórcio público-privado financiado por governos nacionais (contribuindo com base no PIB) e grandes corporações de tecnologia.
  • Funções: Financiamento de manutenção profissional e em tempo integral e auditorias de segurança para projetos OSS críticos; estabelecimento de padrões para o desenvolvimento de software seguro; fornecimento de um fórum neutro para a resolução de disputas sobre a governança do OSS.
  • Justificativa: Isso institucionaliza a proteção de um bem público global vital, mitigando o risco de uma “tragédia dos comuns” e garantindo a estabilidade da economia digital da qual todas as nações dependem.
  • Nível 2: A Agência Mundial de Combate ao Cibercrime (WCA) – “O Escudo”
  • Missão: Investigar, interromper e desmantelar proativamente redes transnacionais de cibercrime (ransomware, fraude financeira, financiamento do terrorismo).
  • Estrutura: Um órgão operacional atuando sob um mandato expandido da INTERPOL, composto por especialistas de elite em cibersegurança cedidos pelos estados membros.
  • Capacidades: Possui sua própria plataforma de análise de inteligência proprietária e de código fechado, alavancando IA e fusão de dados. Esta tecnologia seria desenvolvida em conjunto, mas mantida sob estrito controle internacional para prevenir a proliferação e garantir a responsabilização. A WCA teria autoridade coordenada para apreender ativos digitais ilícitos (por exemplo, criptomoedas) através das fronteiras.
  • Justificativa: Isso cria um “executor” global com a superioridade tecnológica e a autoridade legal para perseguir criminosos através das fronteiras, superando as limitações das agências nacionais individuais. A natureza de código fechado de suas ferramentas é essencial para manter uma vantagem operacional sobre os adversários.

Conclusão: Da Competição Irrestrita à Coexistência Gerenciada

A síntese da análise e das propostas deste relatório leva a uma única conclusão: a era da globalização guiada por uma “mão invisível” acabou. O desafio definidor do próximo quarto de século é construir uma arquitetura para um mundo de competição persistente e aberta.

As três iniciativas propostas — GESA, o roteiro para a reintegração da Rússia e a iniciativa de governança digital — não são apresentadas como soluções autônomas, mas como três pilares centrais e interligados de um novo sistema internacional mais resiliente.

Este relatório conclui com um senso de otimismo realista. Um retorno a uma ordem unipolar é impossível, e um consenso global harmonioso é improvável. No entanto, um futuro estável baseado em coexistência gerenciada, regras claras de engajamento e cooperação robusta em ameaças existenciais compartilhadas é tanto necessário quanto alcançável.

引用文献

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  2. China’s Role in Supply-Chain Strategies | MSCI, 9月 27, 2025にアクセス、 https://www.msci.com/research-and-insights/blog-post/china-role-in-supply-chain-strategies
  3. How is China Integral to the Global Supply Chain? The Unstoppable Force – HROne, 9月 27, 2025にアクセス、 https://hrone.com/blog/how-is-china-integral-to-the-global-supply-chain-the-unstoppable-force/
  4. The trade balance and the real exchange rate – BIS Quarterly …, 9月 27, 2025にアクセス、 https://www.bis.org/publ/qtrpdf/r_qt1109e.pdf
  5. Country Case Studies (Part II) – Industrial Policy for the United States, 9月 27, 2025にアクセス、 https://www.cambridge.org/core/books/industrial-policy-for-the-united-states/country-case-studies/84D7065CEDE486DCB4E035B5397DF5D9

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